Após quase três anos, o Comitê de Política Monetária (Copom), colegiado do Banco Central responsável pela definição da taxa Selic, voltou a subir os juros básicos da economia brasileira. A taxa passou nesta quarta-feira (16) de 11,25% para 11,75% ao ano. A última elevação dos juros havia sido feita em maio de 2005 pelo BC.
O aumento de juros efetuado pelo Banco Central foi maior, inclusive, do que o projetado pelo mercado financeiro. Embora alguns analistas esperassem um aumento para 11,75% ao ano, a maior parte dos economistas projetava uma elevação menor: para 11,50% ao ano. Deste modo, o Copom surpreendeu com o aumento anunciado.
Com o aumento de juros, a autoridade monetária confirmou as sinalizações dadas anteriormente de que um aperto monetário estaria mais próximo. Na ata da última reunião do Copom, ocorrida no início do mês de março, o BC já havia informado que cogitou subir a taxa de juros para conter o crescimento das pressões inflacionárias. No relatório de inflação, divulgado no fim do mês passado, reforçou o recado ao avaliar que a demanda por produtos e serviços estaria crescendo muito na esteira do aumento do consumo das famílias e da elevação do volume de crédito, e, também, que o alto preço das "commodities" (produtos básicos, como grãos e aço) estaria pressionando a inflação.
Ao fim do encontro, o Banco Central divulgou a seguinte frase: "Avaliando a conjuntura macroeconômica e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic, para 11,75% ao ano, sem viés. O Comitê entende que a decisão de realizar, de imediato, parte relevante do movimento da taxa básica de juros irá contribuir para a dimunição tempestiva do risco que se configura para o cenário inflacionário e, como consequência, para reduzir a magnitude do ajuste total a ser implementado."
Para o mercado financeiro, esse será apenas a primeira de várias elevações na taxa de juros. A expectativa dos economistas, colhida pelo BC na semana passada com mais de cem instituições financeiras, é de que, para combater a inflação, os juros voltariam a subir em no início de junho, na próxima reunião do Copom, para 12% ao ano.
Já em julho, os juros, ainda segundo a estimativa do mercado, avançariam para 12,50% ao ano e, em outubro, para 12,75% ao ano - valor no qual fechariam 2008. O mercado acredita que os juros voltariam a ser reduzidos somente em 2009, e fechariam o próximo ano em 11,25% ao ano. Com o comunicado do Copom desta quarta-feira, esse cenário traçado pelo mercado pode mudar, com os juros subindo menos até o fim do ano.
Definição dos juros
A principal missão do Banco Central é controlar a inflação de modo que ela fique dentro das metas pré-determinadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O sistema adotado no Brasil é o de metas de inflação. O BC prioriza o combate à inflação, de modo que o crescimento da economia, e o impacto dos juros altos sobre a taxa de câmbio, ficam relegados a um segundo plano. Para este ano, e para 2009, a meta central de inflação é de 4,5%, com base no IPCA. Há um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo, de modo que, teoricamente, a inflação poderia ficar entre 2,5% e 6,5%. Para conter aumento dos preços acima das metas, o BC sobe os juros. Quando julga que a inflação está compatível com as metas, pode baixá-los. Nesta semana, a projeção do mercado para o IPCA deste ano subiu para 4,66% - acima da meta central de inflação deste ano. Para 2009, a previsão passou para 4,40%, bem próxima à meta central. No relatório de inflação, o BC projeta, com base nos juros e câmbio estimados pelo mercado, um IPCA de 4,7% para este ano e de 4,8% para 2009 - acima da meta central. A divulgação pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do IPCA de março também acendeu luz vermelha no mercado e serviu para consolidar a visão de que os juros subiriam nesta quarta-feira. O IPCA do último mês somou 0,48%, o maior para este mês desde 2005. Em 12 meses até março, somou 4,73% - também acima da meta central.
Críticas
Somente as sinalizações de que o BC poderia elevar os juros já foram suficientes para o aparecimento de várias críticas ao Banco Central. Há duas semanas, por exemplo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, criticou, de forma indireta, seus companheiros de BC em mais um episódio que pode ser classificado como "fogo amigo". Durante discurso na reunião do Conselho Econômico e Social (CDES), no Palácio do Planalto, Mantega classificou de "ortodoxos" os que temem que o atual processo de crescimento econômico cause desequilíbrios. Para o ministro, o aumento do salário dos brasileiros não causa inflação porque a produtividade cresce mais, e acrescentou que os economistas "deveriam aprender isso na escola". O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, não foi muito claro sobre o assunto em recente viagem ao exterior. Na Holanda, Lula afirmou, em um primeiro momento, que não dá palpite sobre eventuais aumentos de juros. "Não será nem a redução de 0,25 ponto porcentual, nem a manutenção em 11,25% ao ano, nem o aumento de 0,25 ponto que vai trazer qualquer transtorno à economia brasileira", afirmou na ocasião. Em seguida, já em Praga (República Checa) porém, Lula disse que isso não poderia ser interpretado como um aval à subida dos juros. "Quem acha isso (que teria autorizado o aumento) está doido", afirmou no último domingo (12).
Impacto na balança comercial
A preocupação do ministro Guido Mantega é com os efeitos da alta taxa de juros no câmbio, ou seja, na cotação do dólar. Juros elevados, e os brasileiros são os mais altos do mundo em termos reais (descontada a inflação), tendem a trazer recursos para aplicações financeiras no Brasil por conta da boa remuneração paga. Dólar em queda, por sua vez, gera deterioração da balança comercial que, no primeiro trimestre deste ano, teve queda de 67% em seu superávit frente ao mesmo período de 2007. Isso ocorre porque as importações ficam mais baratas, enquanto que as vendas ao exterior se tornam mais caras. Para tentar diminuir o impacto do dólar baixo, Mantega anunciou recentemente um pacote cambial que taxa o investidor estrangeiro e, ao mesmo tempo, contém medidas para beneficiar os exportadores. Analistas avaliam, entretanto, que as medidas terão pouco impacto, ainda mais em um cenário de aumento de juros. O governo acena com redução de tributos e com linhas de crédito para o setor produtivo por meio da chamada política industrial, que é debatida há mais de um ano e que pode ser anunciada em maio próximo. O próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) também citou recentemente a queda do dólar como sendo um problema para o Brasil. Em documento divulgado no início deste mês, avaliou que a supervalorização do real, que estaria ligada à uma busca por melhores remunerações do aquelas obtidas em outros países, poderia ser um fator de vulnerabilidade da economia brasileira.
quinta-feira, 17 de abril de 2008
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