segunda-feira, 24 de março de 2008

Empresária suspeita de tortura em GO quer ficar com outras presas

O caso da menina de 12 anos, encontrada em Goiânia, acorrentada e com sinais de tortura por todo o corpo, chocou o país. Uma empresária bem-sucedida é suspeita do crime. Ela conversou com a reportagem do "Fantástico".

Esses são alguns trechos da conversa do "Fantástico" com a empresária Sílvia Calabresi, na tarde de quinta-feira. A reportagem conversou com ela durante 22 minutos no antigo refeitório da cadeia onde está presa. Até quatro dias antes desse encontro, ela era vista em um outro endereço: um apartamento de dois andares, em uma das áreas mais valorizadas da capital de Goiás. Ela, o marido e os três filhos moravam na cobertura, de onde uma escada de ferro dava acesso à caixa d'água do prédio. Foi acorrentada à escada que dois investigadores encontraram uma menina, a quem a empresária chamava de filha de criação. "Eu pensei: 'gente, nem um animal é tratado dessa forma'", comenta a investigadora da polícia Jussara Carvalho. "Ver uma pessoa, um ser humano vivo, naquelas condições. Foi muito, muito difícil pra mim", desabafa. "Eu quero acreditar, tenho certeza, que isso às vezes foi um presente que Deus nos deu para chegar até o local", chora o investigador Jaime Jardim, sem conseguir terminar a frase. Na segunda-feira, dia em que os policiais entraram no apartamento, a empregada da empresária chegou a anotar a hora em que a menina foi amarrada: 5h42. Ela só foi solta cinco horas depois. "Que eu me lembre, amarrei ela uma três vezes naquela escada", diz a empregada de Sílvia, V.N. “Só amarrei, mas machucar ela não", se defende. "E eu coloquei pimenta na boca da menina. Ela que mandou."
Prisão
A empresária e a empregada doméstica foram presas e levadas para a casa de prisão provisória, num complexo prisional, perto de Goiânia. As duas não estão tendo contato com as outras 120 detentas da ala feminina. A direção do complexo teme pela vida das duas, que atualmente são mantidas em celas isoladas. Com a presença de dois advogados e de um tio do marido, a empresária aceitou conversar com a equipe do "Fantástico", desde que o repórter cinematográfico permanecesse do lado de fora. Sem saber que o microfone captava a conversa, ela começou: "Vou confessar em juízo o que fiz, mas vou desmentir o que não fiz. Tenho consciência que daqui não saio. Quero pagar, vou pagar (...)". "Sabe qual é a história? Eu era a mandante, ela era a executante. Essa é a história. Essa é a história. Não tem outra história”. "[Eu executei] Uma vez e não tinha esse negócio de bater todo dia. Também não tinha esse negócio de ficar amarrando todo dia. Não tinha esse negócio igual ela falou, de ficar dois anos presa". "Na minha cabeça, eu não achava que estava torturando (...). Na minha cabeça, achava que eu estava educando". "Já acabou a minha vida. Eu estou escrevendo um caderno. Se você quiser, eu te mostro o meu caderno. Já sei que não vou sair daqui. Só que não queria ficar em isolamento (...). Eu queria ficar junto com as presas”. Neste momento, a empresária é interrompida pelo advogado e tem seqüência o diálogo abaixo:
- Você não vai ficar! (advogado) - O que a senhora falou? (repórter) - Eu queria ficar junto com as presas. - Mas você não vai ficar! (advogado) - Eu não queria ficar sozinha. - Mas você não vai ficar. É ir e morrer. (advogado)
Infância
De acordo com Héber Silva Júnior, parente da empresária, ela tem todo um histórico passado, que pode até explicar melhor o distúrbio de comportamento. Segundo Guido Palomba, especialista em psiquiatria forense, normalmente essas pessoas dizem que sofreram maus-tratos na infância. "Normalmente essas pessoas dizem que sofreram maus-tratos na infância, mas isso não é verdade. São pessoas que são de natureza deformada", afirma. A empresária suspeita de torturar a menina passou a maior parte da infância de orfanato em orfanato, até ser adotada, aos 12 anos. Ainda existem fotos dela nos arquivos de um desses abrigos. Já nessa época, ela demonstrava sérias alterações de comportamento. Aos nove anos, foi expulsa do lar para meninas órfãs. "Alguma coisa ela fazia, e fazia e fazia que não deu para permanecer aqui", revela Marília Curado, ex-diretora da instituição. “Ela estava atrapalhando a educação das outras também", complementa. Para Guido Palomba, a empresária é uma pessoa insensível. "E pessoas que têm esse tipo de comportamento também não têm nenhum arrependimento", garante o especialista. "É um comportamento (...) próprio das pessoas que ficam numa zona intermediária entre a loucura e a normalidade mental", complementa. "Eu já morri! Minha vida já acabou. Eu já sei que vou ficar aqui. Eu tenho noção disso. “Eu não sou louca", encerra a empresária.

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